A distância
faz umas coisas engraçadas com o coração da gente, torna-o frouxo,
contamina o sangue com emoções cruas, cria imunidade contra a razão. De
muito longe, eu acompanhei, fiquei pensando em algo para escrever, ou descrever o ocorrido, queria apenas saber o que falar! E mais uma vez as palavras, pobres, não tem como descrever o sentimento que vem com essa tragédia.
Alguém escreveu, “Quando um filho perde um pai, ele vira órfão. Quando um pai perde um filho, ele é o quê? Nada, mais nada”.
Quando eu fiquei sabendo eu chorei — por gente que nunca conheci, por futuros
interrompidos. Poderia ser eu, amigos meus, parentes meus!Chorei de raiva
pelas mortes desnecessárias. Por que não havia uma luz iluminando a
única saída de emergência da boate? Por que não havia outras saídas de
emergência? Por que ninguém se deu conta da estupidez que é brincar com
pólvora, ingrediente chave de efeitos pirotécnicos, em lugares cheios,
fechados e forrados com um tipo de isolante acústico altamente
inflamável?
No dia
seguinte, enquanto os mortos eram velados em um ginásio, a perícia
examinava os escombros e a polícia detinha os mais prováveis culpados:
os integrantes da banda e um dos sócios da boate. O povo tem sede de
justiça. As detenções são o seu copo d’água.
Temos raiva, mas não é raiva que impulsiona mudanças.
Um dia após a
tragédia, prefeitos de várias cidades decidem intensificar a
fiscalização de casas noturnas, como se, de supérfluo, segurança tivesse
passado a ser necessidade.
O tempo passa, a
gente se esquece dos perigos evitáveis, esquece das regras, esquece das
leis, molha a mão do fiscal para que ele ignore a ausência do que
deveria estar presente.
Dinheiro e cadeia são elementos importantes do esforço de se fazer justiça.
Raiva e choro são catárticos para o coração de quem está longe ou perto; para a dor, não existem fronteiras.
O que causa mudanças são regras — impostas, sim, mas de que vale uma regra imposta se ela não é respeitada?
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